Órgão eleitoral afirma que presidente venezuelano teve 51%. Campanha de Edmundo González, principal adversário do chavista, diz ter obtido 70%
Redação
Em meio a questionamentos de líderes internacionais e com apenas 80% das urnas apuradas, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, o principal órgão eleitoral do país, proclamou na tarde desta segunda-feira (29) Nicolás Maduro como presidente da Venezuela. A proclamação, feita menos de 24 horas após o fechamento das urnas, confirmou Maduro para mais um mandato no comando da Venezuela pelo CNE, liderado por um aliado do presidente.
Com a proclamação, Maduro foi confirmado para mais um mandato no comando da Venezuela pelo CNE, liderado por um aliado do presidente venezuelano. Caso complete este novo mandato, o líder venezuelano terá permanecido no poder por um total de 17 anos – mais do que seu antecessor Hugo Chávez, que governou a Venezuela por 14 anos.
Em discurso no CNE após a proclamação, Maduro afirmou que “Deus colocou sua mão para que eu seguisse na missão”. O CNE proclamou Maduro como presidente sem apresentar as atas de votação, documentos que registram o número de votos e o resultado total de cada um dos cerca de 30 mil locais de votação da Venezuela.
A oposição acusou o órgão de ocultar as atas para manipular o resultado das eleições. O grupo opositor, que se uniu em torno da candidatura de Edmundo González, argumentou que pesquisas de boca de urna apontavam vitória de González sobre Maduro com folga.
O CNE afirmou que a demora na divulgação das atas foi causada por uma “agressão ao sistema de transmissão de dados”. O procurador-geral da Venezuela, Tarek Saab – forte aliado de Maduro e responsável pelo pedido de prisão de diversos líderes da oposição – afirmou que a demora foi causada por um ataque hacker vindo da Macedônia do Norte.
Mais cedo, o CNE já havia declarado a vitória de Maduro nas eleições presidenciais realizadas no domingo (28) no país. Segundo o CNE, Maduro teve 51,2% dos votos, e o principal candidato da oposição, Edmundo González, 44%. O resultado indica uma diferença de 704 mil votos entre os dois candidatos. A última atualização foi na madrugada de segunda-feira, quando o site do CNE saiu do ar – como os dados finais ainda não foram divulgados, esses números devem mudar.
Minutos após a divulgação do resultado, Maduro disse, em discurso a apoiadores em frente ao Palácio de Miraflores, sede do governo venezuelano, que sua reeleição era o triunfo da paz e da estabilidade. “O povo disse paz, tranquilidade. Fascismo na Venezuela, na terra de Bolívar e Chávez, não passará”, disse Maduro.
Com o resultado, Maduro – um ex-motorista de ônibus de 61 anos que se tornou chanceler da Venezuela – deve permanecer mais seis anos no poder em Caracas, chegando a 17 anos no comando do país. Hugo Chávez governou a Venezuela por 14 anos até sua morte, em 2013.
Oposição contesta resultado
A oposição, que tem denunciado irregularidades, contestou os números divulgados pelo CNE e informou calcular que Edmundo González teve 70% dos votos, e Maduro, 30%. Resultados de duas pesquisas de boca de urna divulgadas pela agência Reuters indicavam vitória de González com larga vantagem.
“Queremos dizer ao mundo que a Venezuela tem um novo presidente eleito e é Edmundo González”, disse Maria Corina Machado, a líder da oposição que foi impedida pelo regime de Maduro de disputar a eleição.
Em breve discurso, González – que assumiu a candidatura após o impedimento de Maria Corina – disse que “não descansaremos até que a vontade popular seja respeitada”.
Conselho diz que 59% dos eleitores votaram
De acordo com o CNE, 59% dos eleitores participaram da votação – 13 pontos acima dos 46% registrados em 2018, quando Maduro conquistou seu segundo mandato em um pleito marcado por denúncias de fraude, boicote da oposição e alta abstenção.
Após a divulgação dos resultados, diversas autoridades internacionais questionaram o anúncio de vitória de Maduro e pediram uma contagem transparente dos votos. Por outro lado, presidentes de países como Rússia, Nicarágua e Cuba parabenizaram Maduro pela vitória.
Oposição quer contagem paralela
O anúncio do CNE ocorreu após horas de indefinição (em 2018, os resultados foram divulgados no mesmo dia da eleição). A oposição alegou que o governo estava impedindo o acesso às atas de votação e pediu que a população faça vigília nos locais de votação para checar os resultados.
Em sua primeira coletiva de imprensa para divulgar o primeiro boletim com resultados parciais das eleições, o CNE atribuiu a demora a uma “agressão ao sistema de transmissão de dados que atrasou de maneira adversa a transmissão dos resultados dessas eleições presidenciais”.
“Nas próximas horas estarão disponíveis na página do Conselho Nacional Eleitoral os resultados mesa por mesa, tal como historicamente temos feito graças ao sistema automatizado de votação. Igualmente, se entregará às organizações com fins políticos os resultados em um CD, conforme a lei”, afirmou o CNE.
O Brasil disse esperar detalhamento dos dados da eleição, “passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”. O secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, disse que o país “tem sérias preocupações de que os resultados não refletem a vontade ou os votos do povo venezuelano”.
O presidente do Chile, Gabriel Boric, disse que os resultados que o regime chavista divulga são “difíceis de acreditar”. “Do Chile, não reconheceremos nenhum resultado que não seja verificável”, disse o chefe do Executivo chileno. O chanceler peruano, Javier González-Olaechea, condenou “ao extremo a soma de todas as irregularidades” do processo eleitoral.
Antes da divulgação dos resultados, outras lideranças internacionais haviam cobrado transparência e respeito aos resultados.
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